Palavras passam. Exemplos marcam. Histórias arrastam.
Conheci a Dona Regina, 59 anos, esses dias dentro do ônibus. De família grande, 16 irmãos, casou-se com 13 anos e possui 14 filhos, todos homens, nenhuma menina.
A vida de Dona Regina não foi fácil. A vida inteira em uma casinha simples, vivendo e sobrevivendo da criação de animais e agricultura, dedicando-se integralmente ao cuidado dos filhos.
Perguntei-lhe primeiro se todos os filhos eram com o mesmo homem. Ela disse que sim e afirmou não conseguir viver longe do marido.
Depois, incucada com os 14 filhos, perguntei-lhe se foi muito difícil educá-los. Ela disse que não, pois contava com a ajuda da família, dos próprios filhos mais velhos para cuidar dos mais novos e do marido.
O filho mais novo de Dona Regina hoje tem 21 anos. Estão todos encaminhados na vida, trabalhando e conquistando seus objetivos. Quase todos casados. Somente um neto, homem também.
Eu desci do ônibus e fiquei pensando naquela história da vida real, em como a Dona Regina conseguiu criar essa filharada, como conseguiu manter um casamento tão sólido por todos esses anos.. Fiquei pensando nela correndo atrás dos filhos com as galinhas, fazendo comida no fogão de lenha enquanto corria atrás de menino, se virando em cinquenta pra atender quatorze e se locomovendo com a carroça da família para buscar alimento.
Confesso que ainda estou reflexiva sobre isso, mas a caminhada da Dona Regina marcou a minha em 40 minutos de conversa.
Fiquei pensando no poder dos exemplos. Dona Regina me mostrou um caminho possível de trilhar com as suas próprias pegadas. Mostrou-me o caminho da fidelidade e amor conjugal e da dedicação completa à maternidade. Ela não postou fotos no facebook, nem montou um teatro sobre a sua vida, só me contou a sua trajetória, sua caminhada.
Mostrou-me que é possível ser o que a gente quiser ser mesmo. Que o lugar de mulher é onde ela quiser, inclusive dentro de casa, cozinhando pro marido e vivendo o politicamente incorreto de criar quatorze filhos.
Dona Regina se mostrou plena e sorridente. Ela cantarola suas histórias por aí, mostrando a todos que a felicidade só é real quando compartilhada. E isso ela sabe fazer muito bem.