O amor esfriou. Deixou de ser cuidado, aliança e compromisso. Deixou de ser amor de duas vias e passou a ser de uma só. Virou sentimento, emoção, tesão. Se não sinto, não existe. Resumiu-se à paixão. Que tristeza pro amor.

Bauman já explicava. A “líquida, consumista e individualizada sociedade moderna”  produz grandes dificuldades de relacionamento entre os parceiros, os familiares e as pessoas em geral”.

Não sabemos mais o que é o amor. Alguém nos disse que era investimento e nós aceitamos.  Aplicamos as normas da economia e investimos tempo, dinheiro e esforços em um relacionamento. Esperamos lucro em troca. Se o mercado vai mal, pulamos fora, sem nos despedir, sem rancor, sem dor. É a lei do mercado. O amor esfriou.

Casamos e divorciamos em questões de meses. Buscando uma felicidade utópica, buscando no outro um vazio que não cabe a ele preencher. Depositamos uma expectativa enorme querendo que o outro nos faça feliz, sem nada a doar, nada a renunciar. O nosso tanque de felicidade precisa estar cheio, mas o do outro não tem problema se esvaziar. O amor esfriou.

Os filhos podem ser planejados e “produzidos” conforme as necessidades, impulsos e desejos de seus pais “clientes”. E se eles não ficarem satisfeitos, eles descartam. Clamamos que o “corpo é nosso” como se fosse direito matar o corpo alheio e clamar pela autoria legal. O amor esfriou.

Uma mensagem de whatsapp basta para um desejo de “feliz aniversário” ou “meus pêsames”. Não sabemos o endereço de ninguém, nem conhecemos os pais. Nos “quizz” da amizade perderíamos feio, pois só conhecemos o superficial do outro. O amor esfriou.

A mesa do almoço e do jantar virou enfeite a decorar. Cada um se assenta em um canto diferente, conectado à vida virtual, sobrevivendo na real. A gente se conecta por aí, ao invés de se relacionar.  Criamos redes…de contatos de interesses, de indicações. Redes frágeis, é preciso dizer. A qualquer tempo pode se desconectar, deixar pra lá, passar a detestar.

Uma sociedade hedonista, imediatista. Damos valor ao prazer, e à satisfação instantânea. Socorro! Alguém precisa nos acordar. Devolvam o amor! Busquem a fonte do amor! Todos nós, por favor.

O verdadeiro amor não espera nada em troca, não arde em ciúmes, é benigno e protetor; o amor não é invejoso; não trata com leviandade, não se ensoberbece, nem se deixa levar pelo furor. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não faz mal ao seu feitor, não se ajunta à injustiça, mas é amigo da verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.

É desse amor que precisamos. É da fonte desse amor que ansiamos. Do seu autor.