Todos os sábados, eu encontrava meus pequenos alunos para ensiná-los sobre os primórdios da língua inglesa. Todavia,  em quase todos os encontros o meu coração se partia com o que eu ouvia de João (nome real preservado).

No primeiro dia de aula eu perguntei aos alunos quais eram suas motivações ao estudar inglês. Ouvi respostas como: “para viajar para a Disney”, “para conhecer o mundo”, “para entender as músicas”… mas a de João foi diferente. Ele dizia que queria aprender para que pudesse conversar com seu pai, que o havia abandonado quando era bem pequeno e que há pouco tempo o havia ligado dizendo que se encontrava nos EUA e já estava quase perdendo o uso da língua portuguesa.

João era o menino mais esperto da sua turma. Pegava a explicação muito rápido e era sempre o primeiro a terminar os exercícios, mas sempre reclamava da falta que o pai lhe fazia, de uma maneira que deixava qualquer um com um nó na garganta.

Eu entendia João, afinal também passei por experiência parecida. Apesar de não ter sofrido pelo abandono, sofri com a distância e as consequências que o divórcio naturalmente traz para a vida dos filhos. Cresci sem a figura paterna, presenciada somente por encontros curtos de fins de semana, que mal me proporcionavam o contato profundo que eu ansiava. Quando fui morar com meu pai, dei-me conta de que não o conhecia e provavelmente nem ele a mim e portanto passaríamos por uma fase de descoberta fora de tempo, contudo necessária para o exercício da paternidade atrasada.

A decisão do divórcio não é algo simples, penso eu, mas ao que me parece, o mundo tem simplificado demais o procedimento e até mesmo o processo. Não é normal ouvirmos: “Ah, se não der certo separa”. De fato, para divorciar é necessário menos do que 1 hora, enquanto para casar ao menos uns 90 dias. Será que isso tudo não indica o quanto temos apoiado um procedimento, que na prática, é tão doloroso e triste, principalmente quando há filhos envolvidos?

Alguns dos meus próprios conhecidos têm passado por várias experiências de relacionamentos, após se divorciarem, expondo seus filhos a situações tão dolorosas. É que vivemos a geração da busca da felicidade. Temos que ser felizes a qualquer custa, inclusive à custa do nosso parceiro e filhos. Casamos não para fazermos o outro feliz, mas para sermos felizes. E quando o outro não sobrepõe suficientemente o tanque da  felicidade é hora de embarcar em nova experiência. E não importa a história construída, o patrimônio deixado e nem como os filhos se sentirão sobre aquilo. O que importa é ser feliz, mesmo quando os que mais nos amam estão extremamente infelizes.

O impacto negativo do divórcio é maior sobre a relação de um filho com seu pai do que com sua mãe, como estabelece um estudo Universidade de Illinois, nos Estados UnidosUma outra pesquisa descobriu que 2 em 3 infratores não tem pai dentro de casa. Os efeitos do divórcio são vários na vida dos filhos. Alguns desses efeitos são descritos na pesquisa da psicoterapeuta Christina Steinorth, explicada no seu livro Cue Cards For Life: Thoughtful Tips for Better Relationships:

  •  Extrema ansiedade e dificuldade de relacionar. Muitos psicólogos e pesquisadores acreditam que uma criança que passa pelo processo do divórcio pode acabar ficando ansioso durante o namoro, o que pode ter um impacto sobre seus próprios relacionamentos no futuro.
  • Propensão ao divórcio. Estudos indicam que as filhas de pais divorciados têm uma taxa de divórcio 60% maior em casamentos do que filhos de pais não-divorciados, e os filhos têm uma taxa de divórcio 35%. Parte da razão é que quando os pais são divorciados, eles enviam uma mensagem indireta aos filhos que o divórcio é aceitável.
  • Questões sociais. Normalmente, filhos de pais divorciados passam por problemas sociais e podem se tornar retraídos e tímidos e encontrarem dificuldades para se relacionarem com colegas de classe.

Esses são alguns reflexos de uma geração que cresce sem paternidade, sem limites, na maioria das vezes criadas pelos avós, tios ou pela própria vida, soltos na rua, expostos a qualquer tipo de oferta que vier.

A verdade é que se quisermos uma nação mais saudável, jovens melhor educados, menos violentos, escolas lotadas e prisões vazias, precisamos investir na família, a começar por uma nova mentalidade sobre o casamento e criação de filhos. Que Deus nos ajude na escolha do nosso parceiro de vida, na preservação do nosso casamento e na boa educação de nossos filhos.