“Desde 2012, casais do mesmo sexo são livres para agir conforme suas crenças sobre o casamento, mas porque eu sigo o ensino da Bíblia de que o casamento é a união de um homem e uma mulher, eu não sou mais livre para agir de acordo com as minhas crenças.”

Esse é um trecho da carta de  Barronele Stutzman, documento pelo qual ela renuncia um acordo em um dos seus processos. Barronelle é uma senhora de 71 anos, florista há 30 anos, proprietária da loja de flores Arlene’s Flowers em Washington, EUA.

Desde 2014, ela responde a dois processos. Um interposto pela American Civil Liberties Union e outra pelo Advogado Geral do Estado de Washington,  os quais afirmam que ela é culpada de discriminação ilegal por ter agido de acordo com sua fé e se recusado a usar suas habilidades criativas para embelezar a cerimônia homossexual de um cliente de longa data, Robert Ingersoll, e de outro homem, Curt Freed. Hoje, Barronelle será ouvida na Suprema Corte norte-americana.

Barronele vende flores e cria arranjos decorativos para ocasiões especiais há anos. Estando no negócio há um longo tempo, diz ter seus clientes como amigos e companheiros de apreciação da arte das flores. Um desses seus clientes e amigos, Robert Ingersoll, certa vez, pediu-a que criasse algo especial para seu casamento com um outro homem. Baronelle afirma que nunca escondeu sua fé e acreditava que Rob entendia que suas crenças moldavam não somente sua forma de olhar o mundo, mas sua imaginação e a forma como ela fazia sua arte de criar arranjos.

Baronelle afirma que tinha conhecimento de Robert Ingersoll ser gay e continuava prestando diversos serviços para ele, mas ao se tratar usar seus dons e talentos para decorar o casamento homoafetivo de Robert, a florista não podia responder afirmativamente ao seu pedido, pois estaria assim endorsando a cerimônia e contribuindo para algo o qual ela não compactua.

Se tudo o que ele tivesse pedido fossem flores pré-arranjadas, eu o forneceria. Se a celebração fosse para o aniversário do seu parceiro, eu daria o meu melhor para criar algo especial. Mas, como cristã, os casamentos têm um significado especial.

O casamento celebra o amor de duas pessoas um ao outro, mas seu significado sagrado vai muito além disso. Certamente, sem pretender fazê-lo, Rob me pedia que eu escolhesse entre meu afeto por ele e meu compromisso com Cristo. Tão profundamente afeiçoada quanto sou de Rob, meu relacionamento com Jesus é tudo para mim. Sem Cristo, não posso fazer nada.

Não me envergonho disso, mas foi uma coisa dolorosa tentar explicar a alguém que me importava; uma das coisas mais difíceis que já fiz em minha vida. Mas Rob me assegurou que ele havia entendido. E eu sugeri três outros floristas próximos que eu sabia que fariam um excelente trabalho para esta celebração que significava muito para ele. Ele parecia não ter ficado chateado com isso.

Mas então eu fui processada.

Não era que eu não criaria algo para celebrar seu casamento entre pessoas do mesmo sexo – eu simplesmente não poderia. Não se tratava de lhe vender flores, nem de comemorar um aniversário. Isso envolveu o que, para mim, é um evento de significado espiritual único – uma aliança sagrada. A arte, como a fé, vem do coração, de quem eu sou. Eu não podia negar a minha fé – mesmo para um amigo tão querido – sem danificar a própria criatividade que ele estava pedindo.

A advogada de Barronelle, Kristen Waggoner, da organização internacional Alliance Defending Freedom (da qual eu orgulhosamente faço parte, como Blackstone Fellow), defende que a florista não pode ser forçada a usar seus talentos artísticos de maneira a conflitar com suas profundas convicções religiosas sobre a natureza bíblica do casamento. O Estado não pode forçar uma artista a criar expressões artísticas que violam suas próprias crenças fundamentais.

Mesmo diante das dificuldades e sendo ameaçada, processada e pessoalmente ofendida, Barronelle parece não temer. Ela diz: “Você tem que tomar uma posição sobre o que você acredita em algum momento da sua vida.” E ainda:

Eu certamente não gosto da ideia de perder o meu negócio, minha casa e tudo o mais que o esse processo ameaça tirar da minha família, mas a minha liberdade para honrar a Deus com o que faço de melhor é mais importante. A Constituição de Washington nos garante “liberdade de consciência em todos os assuntos de ordem religiosa”. Eu não posso vender essa preciosa liberdade. Você está me pedindo para andar no caminho de um traidor bem conhecido, um que vendeu algo de valor infinito por 30 moedas de prata. Isso é algo que eu não vou fazer.

Eu nunca imaginei que usar meus talentos e habilidades dados por Deus e fazer o que eu amo fazer por mais de três décadas, se tornaria ilegal. Nosso Estado seria um lugar melhor se respeitássemos as diferenças e se nossos líderes protegessem a liberdade de ter essas diferenças.

Assim como Kristen e Barronelle, eu também acredito que cada ser humano possui o direito intrínseco de ser respeitado em suas convicções pessoais e crenças. Ninguém pode ser forçado a fazer algo que vá contrariamente a sua fé. O direito de crença envolve o direito de se expressar conforme sua visão religiosa. O Estado, portanto, deve obrigatoriamente reconhecer esse direito e garantir que essas diferenças sejam respeitadas. Por isso, me coloco a favor de Barronelle e espero que a Suprema Corte dos Estados Unidos da América assim também o faça.